quarta-feira, 30 de novembro de 2011

PRECISO DE POESIA

Preciso de poesia na minha vida
Preciso de fé
Preciso de esperança
Beleza
Amor
Inspiração

Preciso acreditar novamente
Na fé
Na esperança
Na beleza
No amor
Na inspiração

Preciso de poesia
Preciso poetizar a vida....

domingo, 27 de março de 2011

Extremos da paixão


Não, meu bem, não adianta bancar o distante lá vem o amor nos dilacerar de novo...

Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.

Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.

No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano,e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó.O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya,ilusão,passatempo.E exigimos o terno do perecível,loucos.

Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolosem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.

Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.

Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 18 de março de 2011

Basta de injustiça, chega de exploração: MAMÃE, EU QUERO MAMAR!

Minha amiga, me faça um favor, ligue a tv, bote em qualquer canal e assista a uns três ou quatro anúncios, a umas duas ou três notícias. Pode ir que eu espero.

Foi? Agora me diga se eu estou errado. Nos anúncios as crianças agem como adultos e os adultos como crianças? Você viu um senador da república roubando descaradamente e defendendo até às lágrimas seu direito de roubar descaradamente? Viu um ministro lá do judiciário ganhando uns 20 mil, se aposentando com os 20 mil limpinhos e reclamando que não tem aumento? Viu milhões de pessoas vivendo numa favela, sem esgoto, hospital e escola, com tiroteio diário e todo mundo saindo de casa pra trabalhar em vez de sair pra tocar fogo na cidade inteira?

Bem, você e o resto da turma eu não sei, minha amiga, mas eu, diante disso tudo, eu pergunto: esses poderosos todos acham que vão me tratar feito criança e eu não vou fazer nada? Pois estão muito enganados! Eu vou fazer birra, vou fazer manha, vou fazer beicinho, vou deitar no chão e espernear! E não vou ficar calado não. Vou chorar bem alto: uééééé! E se você está estranhando, eu explico, minha amiga. É simples: está mais do que provado, está mais do que na cara que eu tenho a idade mental de um bebê. Que outra explicação pode haver para esse mundo ser esse mundo e eu não sair por aí incendiando tudo, como um descendente de Nero, ou cometendo uns três ou quatro genocídios, tal qual uma reencarnação de Átila, de algum papa ou do Stálin?

E já que eu não fiz nada disso, a partir de hoje eu exijo ser tratado como um recém-nascido, um lobotomizado. É, minha amiga, essa aqui é a Declaração Universal dos Direitos de um Zero à Esquerda. E o zero à esquerda sou eu, muito prazer. Chega de ser inocente útil. Eu quero ser um inocente inútil, improdutivo, imprestável e não ter mais responsabilidade nenhuma. Eu não quero saber de restaurante de um real nem de ticket-refeição: eu quero o governador em pessoa aqui em casa na hora do almoço fazendo “olha o aviãozinho” com a colher cheia de feijão. Eu não quero transporte público, eu quero que me levem no colo. Neném gosta é de colinho! É isso mesmo, o Brasil pode tratar de se apertar porque chegou mais um pra ficar deitado eternamente em berço esplêndido: eu! Podem me prender e até me torturar. Minhas únicas declarações serão: papá, mamã, dadi-dudi-dódó!

Mas não se assuste, minha amiga, porque eu também não sou nenhum revoltado inconsequente. De jeito nenhum! Tanto que prometo bater palminha pra todas as declarações dos poderosos. Podem mentir à vontade, podem até cair na gargalhada no meio de seus importantes pronunciamentos. Eu vou também vou rir. Nós, os bebês, somos assim: sempre que a gente vê um adulto rindo a gente ri junto.

E nunca mais vou recitar emocionado: Ah, que saudades que eu tenho da minha infância querida. Sabem por quê? Porque a minha infância querida só vai acabar quando eu morrer bem velhinho. E ainda estarei andando de carrinho e tomando mamadeira. Não quero decidir mais nada, o máximo que eu posso fazer é comprar e comprar e chorar quando escangalhar. Só uma última proposta: em vez de deputados e senadores, a gente devia eleger babás para ocupar o Congresso e a ONU e decidir os destinos da nação e do mundo.

E você é bem capaz de me perguntar: mas quem vai tomar conta dessa criançada? Quem vai gerir o mundo e a humanidade? Ah, sei lá, eu sou pequenininho, não me preocupo com isso não. Não quero mais saber de governantes. Aceito no máximo uma governanta. De preferência uma alemã peituda e mandona. Eu sou que nem o Peter Pan. E quero comer a Sininho. Escrever esse texto foi a última iniciativa que eu tomei na vida. Depois do ponto final eu não tenho mais opinião, só tenho vontade: eu quero! Eu quero! Eu quero! E pronto! Quero liberdade total, vou fazer cocô nas calças e ainda vou esfregar na parede! Não quero bolsa-família, não quero bolsa-escola, não quero cidadania. Tenho uma única reivindicação final, minha amiga: dá a chupeta pro bebê não chorar!


César Cardoso

Bom, Ruim, Assim, Assim...

Quer saber de uma coisa? Tudo pode ser bom, ruim e principalmente
assim assim
Tudo ao mesmo tempo ou não, e não necessariamente nessa ordem
Bom é chegar na praia à tardinha, anuncio de por de Sol, a água
de ondas mansinhas
Jogar bola na espuma e sob o céu encaixa como se fora Tafaréu.

É bom também quando começa a chover
E as gotas fazem cócegas na superfície do mar
Como se um cardume infinito prometesse matar a fome
De todo o Vidigal, Rocinha, Cidade de Deus e Vigário Geral.

Ruim é lembrar daquele amigo que de prancha na mão
Morreu de um beijo roubado de um raio, da lembrança a correria,

O medo... o medo... medo é bom, ruim é o medo de ter medo!

Bom voltar trocar chuva por chopp e passar atrás da pelada
A bola vai pra fora e como na crônica de Rubem Braga sobra pra
você
Que mata no peito faz embaixadinha e devolve redondo... num
chute perfeito
Ruim é a fisgada na coxa sair mancando disfarçadamente...
A vergonha de ta decadente não é ruim, ruim é o orgulho que se
nega a reconhecer a decadência.

É bom a cidade estranha em que você nunca esteve e sabe que
nunca mais vai voltar
E nesse lugar você tem uma obrigação sem graça que cumpre com
estilo e precisão
Traçando um dia perfeito no arco do tempo

Quando cai a noite é bom tomar um banho e sob o chuveiro é bom
sentir saudade,
Ruim é não ter saudade, e como é bom sair sem direção pelas ruas
da cidade
Pensando no que você fez da sua vida e no que a vida fez em você

Bom é sonhar, realizar não é tão bom, mas ruim mesmo é não
realizar

O fim de um grande amor é muito, muito ruim, um grande amor não
tem fim!
Bom é amar, ruim é amar... Bom é encarar a vida com fantasia.
Quando um poeta desaparece é bom colocar chapéu de Bogar que
tudo pode solucionar...
Ruim é encontrar o precipício, morrer não deve ser tão ruim
assim...
E pode ser bom falar sobre bom e ruim, e pode ser pior assim
assim ... bom!

Pedro Bial


terça-feira, 8 de março de 2011

Você é...

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.

Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.

Martha Medeiros

sábado, 5 de março de 2011

Sempre...

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
M.B.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Manoel, Manoel....

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.
(Manoel de Barros )

E passou...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos